Santa Maria, Mãe de Deus

31
Dic

Ao longo das ruas de Moçambique, nos mercados, nos campos, nas igrejas, ou entrando nos estreitos becos que levam onde mora a maioria das pessoas: um concentrado de barracas e pardieiros, não escapa ao olhar as mães com seu filho nas costas, envolto em um pedaço de pano colorido chamado “capulana”, que serve para mil usos: enxugar, acenar, cobrir, limpar…

Com grande naturalidade e ternura, as mães oferecem seus seios para amamentar e também tranquilizar a criança que é carregada no útero por nove meses e, por vezes, dada à luz em condições sanitárias precárias. Muitas delas são adolescentes e jovens que, no auge da vida, às vezes sem perceber, seguram a criança em seus braços para cuidar dela, alimentá-la, fazê-la crescer e educá-la.

A jovem e fecunda realidade de Moçambique, como a da mãe África, é um presépio vivo que lembra a área periférica de Belém, a casa do pão, onde Maria dá à luz seu primogênito, chamado Jesus, como o Anjo Gabriel lhe havia anunciado, realizando, assim, o sonho de Deus de se tornar homem e assumir a frágil condição humana.

Maria, uma mulher humilde entre os humildes, tem encontrado graça com Deus; ela se abre para ouvir e dialoga com Deus que está à espera da sua resposta para começar algo novo na história: uma história que recomeça a partir de seu “Aqui estou”, que foi sussurrado com trepidação e confiança. O útero de Maria, fecundado pelo Espírito Santo, torna-se a morada de Deus e no final da gravidez, na plenitude dos tempos, ela dá à luz seu filho. Maria, mãe de Deus, gera o Filho do Altissimo.

A história de Jesus está ligada à história de sua Mãe Maria, cujo ventre se torna espaço para receber “o Verbo que estava junto de Deus, … se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,1), tornando-se nosso irmão.  Por esta razão, a Igreja confessa que Maria é verdadeiramente Mãe de Deus (Teotokos), portadora de Deus (CIC, 495). O Santo que nascerá é alimentado por Maria, pela sua carne feminina, por sua fé israelita, por sua capacidade de servir, de sair de si mesma para encontrar os outros, tecendo bons e belos relacionamentos.

Como um milagre, o Filho de Deus foi tecido no ventre de sua Mãe (cfr. Sl 138) e tornando-se uma mensageira de boas notícias nas montanhas da Judéia, ela é aclamada pela idosa grávida Isabel: “a Mãe do meu Senhor” (Lc 1, 43). Maria, a Mãe de Deus que gerou na fé, antes que na carne, nos convida a contemplar o Filho e nele o rosto de Deus que se torna carne nos rostos de irmãos e irmãs, especialmente os descartados da sociedade.

É bom, portanto, celebrar, no início de cada ano, a Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus. Como Maria, o ano novo também é um ventre fecundo de vida, de acolhimento, de esperança. Para cada um/a de nós é um kairos, um tempo de graça; somos chamados para gerar interiormente a Palavra de Deus e tecer fraternidade/sororidade com aqueles que caminham connosco nas estradas da vida.

Irmã Anna Fontana

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