O termo fronteira muitas vezes é usado como limite geográfico que delimita espaços através da divisão, para marcar a divisão entre os dois países. Porém, para os migrantes, fronteira é um leque de possiblidades: é espaço gerador de relações sociais, de encontro, de esperança, de sonho; é expectativa da proximidade da “Terra Prometida”. Em outras palavras, mais que dividir, a fronteira aproxima experiências e é experiência de ressignificação de vida e de resiliência. Foi a experiência de cruzar fronteira, com minha família, que me despertou a vocação à vida missionária e ser Irmã Missionária Scalabriniana. São 38 anos de Vida e Missão junto a pessoas migrantes e refugiadas, numa permanente troca, partilhando com elas a fragilidade do caminho e com elas somando forças
Ser Mulher, missionária, “migrante com os migrantes” é uma tarefa exigente, tanto no meio social como eclesial. No meio social, com frequência prevalecem os títulos, cargos, poderes que demonstram sons altos e graves, quase que abafando a voz terna, presente, viva, expressiva e vivencial da vida missionária feminina. E são nesses espaços públicos que aflora a criatividade, a coragem, o grito por direitos e justiça que se fazem ecoar. Normalmente em conjunto com outras mulheres e com argumentos provados em mãos. No meio Eclesiástico e Eclesial, sobrevivem os resquícios de poder, de comando hierárquico e patriarcal. No entanto, a força emanada da sinodalidade, do diálogo, do compromisso comum vem se fortalecendo cada vez mais na Igreja que busca caminhar juntos. Neste espírito de amor solidário, a Vida Religiosa cada vez mais se torna presença que provoca transformação.
Experimento, no caminho diário os desafios dos que partem, dos que chegam, dos que continuam o caminho. É como se meus pés se mobilizassem junto, paralisem por um instante e vislumbrassem possibilidades além fronteira. É assim que vivo e experimento a missão, para além de seu itinerário geográfico, um programa de vida apaixonada, na busca de caminhos que reivindicam solidariedade, respeito, independência econômica, liberdade de escolha e o direito de edificar sua própria vida e ser protagonista da própria história.
Irma Terezinha Lucia Santin, mscs
* Ir. Terezinha, scalabriniana, trabalha aqui em Roraima há alguns anos. Atualmente é presidente da Caritas e coordenadora da pastoral dos migrantes.
Ela está muito atenta à causa dos pobres e desesperados.