Desde os primórdios da Igreja os fiéis sempre acreditaram que Maria, a Mãe de Jesus, nasceu sem o pecado original. Tanto no Oriente como no Ocidente, há grande devoção à Maria enquanto mãe de Jesus e Virgem sem pecados. Já no século VII se celebrava a festa litúrgica da Conceição de Maria aos 8 de dezembro, ou nove meses antes da sua natividade, celebrada no dia 8 de setembro. A existência desta festa litúrgica é um forte indício da crença da Igreja sobre a Imaculada Conceição, antes mesmo da sua definição como dogma em 1854.
A festa da Imaculada Conceição de Nossa Senhora foi incluída no calendário romano em 28 de fevereiro de 1477 pelo Papa Sisto IV. Em 1570, foi confirmada e formalizada pelo papa Pio V, na publicação do novo ofício, e, finalmente, no século XVIII, o papa Clemente XI tornou-a obrigatória a toda a cristandade.
No dia 8 de dezembro de 1854, através da bula Ineffabilis Deus do Papa Pio IX, a Igreja oficialmente reconheceu e declarou solenemente como dogma: “Maria isenta do pecado original”.
Em 1858, quatro anos mais tarde, a própria Virgem Maria, na sua aparição em Lourdes, confirmou a definição dogmática e a fé do povo dizendo para Santa Bernadette: “Eu Sou a Imaculada Conceição”. Todos os estudiosos consideram quase impossível que uma adolescente como era Bernadete, vivendo num lugarejo insignificante como era Lourdes, soubesse da proclamação do dogma e muito menos o seu significado. Por isso, as aparições de Nossa Senhora em Lourdes são consideradas como uma confirmação celestial do dogma da Imaculada Conceição.
A primeira imagem da Imaculada Conceição chegou ao Brasil em uma das naus de Pedro Álvares Cabral. O culto teve início na Bahia, quando Tomé de Souza chegou a Salvador trazendo uma escultura da santa. Ela foi protetora do nosso país no período colonial e foi proclamada Padroeira do Império Brasileiro por D.Pedro I. Já no despontar do século XX o título cedeu lugar a Nossa Senhora de Aparecida, que é uma antiga imagem da Imaculada Conceição encontrada nas águas do rio Paraíba do Sul.
IMACULADA CONCEIÇÃO APARECIDA
No Brasil veneramos a Imaculada Conceição de Maria sob o título de Nossa Senhora Aparecida. Se chama assim porque apareceu no Rio Paraíba, recolhida por pescadores em dois lances de redes diferentes: primeiro a imagem de terracota (argila cozida) e depois a cabeça.
A história de Nossa Senhora da Conceição Aparecida tem seu início pelos meados de 1717, época das Capitanias Hereditárias. Segundo os relatos a aparição da imagem ocorreu na segunda quinzena de outubro de 1717, quando o Conde de Assumar, Dom Pedro de Almeida e Portugal, governador da província de São Paulo e Minas Gerais, visitava a região do Vale do Paraíba, mais precisamente Guaratinguetá. As autoridades da Vila de Santo Antônio, com o intuito de oferecer um banquete de boas-vindas ao Conde e à sua comitiva, incumbem três pescadores, Domingos Garcia, Filipe Pedroso e João Alves, de buscar bons peixes no Rio Paraíba. O fato curioso é que naquela época, meados de outubro, não era tempo de peixes. No entanto, como não podiam contradizer o pedido, rezaram pela proteção e benção da Virgem Maria e de Deus para que pudessem regressar com fartura.
Desceram então o rio e nada encontraram; após várias tentativas malsucedidas, chegaram ao Porto Itaguaçu. Foi então que João Alves lançou a rede nas águas e eis que surpreendentemente, ao recolhê-la, eles se depararam com uma imagem da Virgem Maria. Curiosos, lançaram novamente as redes e “pescaram” uma cabeça que se encaixou perfeitamente ao corpo. Ao unificar a cabeça e o corpo da imagem reconheceram-na como Nossa Senhora da Conceição. A partir deste momento os pescadores, que antes não tinham conseguido pescar nada, encheram as suas redes com uma quantidade abundante de peixes.
Antes de levarem os peixes para o banquete, entregaram os pedaços da estátua a Silvana da Rocha Alves, esposa de Domingos, irmã de Felipe e mãe de João, que reuniu as duas partes com cera e a colocou num pequeno altar na casa da família, agradecendo a Nossa Senhora o milagre dos peixes.
A estátua representava Nossa Senhora da Conceição, mas ganhou o nome de Nossa Senhora Aparecida por ter surgido, ou aparecido, dessa forma surpreendente. A imagem era de cor preta e media cerca de 40 centímetros de altura. O motivo pelo qual a imagem se encontrava no fundo do rio Paraíba é que, durante o período colonial, as imagens sacras de terracota eram jogadas em rios ou enterradas quando quebradas.
Durante 15 anos, Pedroso ficou com a imagem em sua casa, onde recebia as pessoas para as orações e a reza do terço. O movimento foi crescendo e logo surgiram histórias sobre os milagres concedidos. Foi construída uma capelinha para abrigar a imagem, e a devoção a ela foi aumentando. Outras capelas maiores a substituíram, até chegar ao quarto maior santuário do mundo, o Santuário Nacional de Aparecida localizado na cidade de Aparecida, interior do Estado de São Paulo.
A devoção à imagem foi crescendo ao longo dos anos e muitas graças foram alcançadas pelos fieis que a visitavam. Vale a pena recordar três episódios, considerados verdadeiros milagres: o primeiro prodígio, sem dúvida alguma, foi a pesca abundante que se seguiu ao encontro da imagem. Não há outras referências sobre o fato a não ser aquela da narrativa do achado da imagem: “E, continuando a pescaria, não tendo até então pego peixe algum, dali por diante foi tão abundante a pesca, que receosos de naufragarem pelo muito peixe que tinham nas canoas, os pescadores se retiraram as suas casas, admirados com o que ocorrera.” Como segundo podemos citar, sem dúvida, o milagre das velas pela sua íntima relação com a fé. Aconteceu no primitivo oratório do Itaguaçu, quando o povo se encontrava em oração diante da imagem. Numa noite, durante a reza do terço, as velas apagaram-se repentinamente e sem motivo, pois não ventava na ocasião. Houve espanto entre os devotos e, quando Silvana da Rocha procurou acendê-las novamente, elas se acenderam por si, prodigiosamente. Em terceiro referimos o significativo prodígio das correntes que se soltaram das mãos de um escravo, quando este implorava a proteção da Senhora Aparecida. Existem muitas versões orais sobre o fato. Algumas são ricas em pormenores. O primeiro a mencioná-lo por escrito foi o Padre Claro Francisco de Vasconcelos, em 1828.
A partir da intensa devoção a Nossa Senhora Aparecida, a figura de Maria vai se consolidando como presença materna e constante entre nosso povo até ser coroada rainha do Brasil em 8 de setembro de 1904 e declarada sua padroeira em 31 de maio de 1931 em cerimônia solene no Rio de Janeiro, então capital federal.
A Igreja venera a Virgem Maria com afeto filial, como Mãe amorosíssima, e tudo o que se refere a sua pessoa refulge perante os nossos olhos com esplendor sempre novo. De fato, seus gestos são tão carregados de significado e transbordantes de conteúdo que, apesar de tudo o que ja foi dito sobre a Santa Virgem, ainda nos falta descobrir plenamente a Sua dignidade e grandeza espiritual. Nos acompanha, no entanto, a certeza que Maria Santíssima é como um farol luminoso a nos indicar como chegar a Cristo.
Que a Nossa Senhora Aparecida, Imaculada Mãe de Deus e nossa nos ajude a viver plenamente imersos na realidade da vida e a nos tornarmos cada dia mais semelhantes ao seu Filho!
Ir. Marília Polêto, USCM